sábado, fevereiro 24

Frutas

Ao contrário da amizade, que acontece quando alguém ensina outro a comer um kiwi através da sua fórmula secreta, o amor acontece quando duas pessoas, mais do que uma laranja, adoram a mesma parte da laranja, a parte branca depois da casca.

* Este post é uma vitória pessoal. E só eu sei porquê.

Depois vem a exasperação

Trabalhar com gente inapta para a tarefa tem essa vantagem de nos fazer sentir competentíssimos e de nos levantar a auto-estima.

Post-Mortem

Os mundos dentro do mundo têm modos de funcionamento, tendências, regras, costumes. O mundo da blogoesfera não é diferente. Há como que uma tendência geral para se seguirem determinados padrões de comportamento e formas de agir que são comuns a muitos dos blogues que por cá andam. Uma das que acho mais particulares é o elogio da morte, ou melhor, a homenagem post-mortem. Morreu a Sophia de Mello Breyner, pimba, bota-lhe um poema no blogue. Morreu o Mário Cesariny, pimba, bota-lhe um poema e uma pintura no blogue. Aniversário da morte de Zeca Afonso, pimba, bota-lhe música no blogue. Ramificações de um país que faz a apologia da estátua e do nome da rua. Post-Mortem.

quinta-feira, fevereiro 22

Largo da Graça

Lost

Senhores responsáveis pelo canal público de televisão,

Escrevo-vos no sentido de informar vossas excelências que irei neste momento visionar o episódio nove da terceira série desse êxito televisivo que é o Lost, ou seja, irei ver o episódio que foi exibido hoje nos Estados Unidos às 8pm central time [façam as contas... é qualquer coisa como, agora]. Ainda está quentinho.

Bem sei que o vosso serviço [pouco] público tem o direito de emissão da referida série para Portugal, mas vossas excelências não sabem o quanto me agrada poder responder desta forma à incompetência com que os senhores presenteiam os vossos telespectadores quando exibem as séries que compram com meses e meses de atraso. Ora os episódios são repetidos vezes e vezes sem conta, ora são cancelados ou mudados de horário sem aviso, ora simplesmente não os passam. Ora eu fartei-me e vou agora começar a ver.

Os meus melhores cumprimentos,

J.

quarta-feira, fevereiro 21

Bons Encontros

Yann Tiersen, 7 de Março na Aula Magna da Universidade de Lisboa. É fechar os olhos, sentir a vibração da música, viajar até Montmartre e voltar rapidamente, que esta música é muito mais do que a também muito nossa Amélie.

Macbeth «Uma análise política de um golpe de estado e as suas consequências (...) um thriller com um desenrolar rápido, intenso, cheio de humor e vulnerabilidade no meio da brutalidade e forças do sobrenatural». Em cena no Teatro da Trindade, até 15 de Março. Porque é sempre bom ver Shakespeare em cena.

Opinião

Um dia perguntei-me o que era um lugar-comum, onde é que ficavam os lugares-comum. No número de informações pensaram que estava a brincar. Nas páginas amarelas, fiquei em branco. Nada. Decidi então comprar alguns jornais... e Voilá! Foi o que me safou.

Regina II

[1ª Parte: Aqui]

Já a noite ameaçava dar lugar a uma manhã de sono quando uma visita ao site dos The Strokes leva-me para este vídeo. Foi neste final de noite que o imaginário à volta de Regina vacilou. Havia alguém mais para além da ruiva mal educada e com mau hálito, algo mais para além dos melhores chocolates do mundo de sabor a ananás. Uma voz pareceu dizer que aquelas três sílabas tinham uma melodia que ainda havia de dar muito que cantar.

A tarde foi de trabalho e só voltei a ouvir a Regina uns dias depois. A mesma voz doce mas com o seu piano, a sua letra e a sua melodia. A ruiva dos óculos verdes e do mau hálito que viveu a minha adolescência deixou de ser Regina, passou a ser uma ruiva de óculos verdes e mau hálito. Regina era agora Spektor. Era Regina Spektor e Regina nome de chocolate.

Ministério da Propaganda

Ele não fazia horas extra nem trabalhava aos fins de semana e quando lhe disseram de qual ministério se tratava ele logo suspeitara, associava-o aos regimes totalitários do século XX europeu. Mas não. Era certo que o salário não era dos melhores mas trabalhar para o Estado conferia-lhe uma importância que ele não podia desprezar e a suspeita assim se esfumou. Tinha de entrar para uma função pública que era pública por ser única e por ser do Estado, o salário era único, dava para as despesas e para tirar os filhos da escola uma vez ou outra.

Acordava todos os dias às 6 da manhã e começava o dia a trabalhar. O primeiro sorriso, o primeiro beijo na moldura com a fotografia dos miúdos. Passava todo o dia a distribuir sorrisos, isto ainda a caminho do edifício da Avenida da Elite onde os gabinetes da sua delegação do ministério passavam bem despercebidos. Nos autocarros, nos metros, nas bibliotecas, nos elevadores, por todo o lado naquela que era a sua zona, ele sorria, desejava um bom dia e dava dois dedos de conversa. Era este o seu trabalho, vender felicidade instantânea, fugaz, efémera. Tudo o que tinha de fazer era dar o seu lugar, ceder passagem numa entrada, comprar o jornal e beber a bica. Continuar assim a viver o seu dia-a-dia no dia dos outros. Ajudar ideais em formas de simpatia e esperança num futuro. Não havia dia em que o seu olhar não trouxesse uma luz e o seu sorriso um brilho. Alquimia capaz de o promover passado um ano, alquimia capaz de encadear um mundo escuro, deixando-o assim, cada vez mais cego.


















[Foto via Literaturismo]

terça-feira, fevereiro 20

Rossellini Revelador

Tinha acabado de almoçar e a chuva não abrandava. Para quem não está obrigado a sair de casa, sair quando chove é sinal de grande voluntarismo. Com uma moral em alta e programa para a noite lá fui eu para a Rua Barata Salgueiro nessa tarde chuvosa. O edifício da Cinemateca trouxe-me um lugar à porta, óptimo! Entrei e respeitei uma fila um tanto surpreendente já com o dinheiro trocado na mão e deixa alinhavada «Boa noite, um bilhete para a sessão das 19h30 e outro para a sessão das 22h». Três minutos depois, sensivelmente vinte e três minutos depois do início da venda dos bilhetes, gera-se movimentação fora do normal e um -«Eu sei que a menina não tem culpa disto, mas é uma vergonha, isto assim é uma vergonha» confirma as suspeitas. Algo se passa. Os bilhetes esgotam num simples telefonema que reserva quase meia-sala. Fiquei sem programa para a noite, com o dinheiro na mão e uns ténis bem encharcados.

Nota: Post motivado pelo facto das maravilhas da Internet terem feito chegar até mim a trilogia com que se inicia o programa Rossellini e o Cinema Revelador: «Roma, Cittá Aperta»; «Paisá» e «Germania Anno Zero».


Regina

Existem nomes do arco da velha, outros com que apenas não simpatizamos ou que na realidade são demasiado foleiros para algum dia podermos vir a tratar filho nosso dessa maneira - aquela velha discussão, a escolha do nome para os pretensos filhos. Um desses nomes meio foleiros é Regina. É verdade que Regina é o nome dos melhores chocolates de sabor a ananás feitos no mundo, mas mais do que isso, Regina é o nome de uma antiga colega de escola que além de ser bastante ordinária nas palavras, conseguia sê-lo ainda mais nos actos, juntando a ordinarice a um terrível hálito que a caracterizava mais do que tudo. Provavelmente era problema de estômago, mas num riso ainda que tímido (nunca era) vía-se facilmente que problema de estômago não era causa única. E assim sempre ficou o nome de Regina associado àquela figura ruiva. Sempre até um dia.



segunda-feira, fevereiro 19

Redundâncias

O nacional-porreirismo não devia ser uma coisa porreira?

Uma face masculina

Depois desse fenómeno não despiciente que são as mulheres, um dos vários argumentos em que baseio a minha heterossexualidade provém do facto de acreditar que sempre tive facilidade em identificar e entender a beleza masculina e que por essa razão a considero a um tanto banal.

Os padrões de beleza masculinos assemelham-se a uma ciência exacta e fatalista, onde sem média, só existe uma moda - uma espécie de visão maniqueísta da beleza onde existem os bonitos e existem os feios, e entre eles, um precipício, um espaço vazio preenchido, na maior parte das vezes, por alguém com dinheiro, com muito dinheiro.

Resumindo, a beleza masculina além de banal, é subsidiária da beleza feminina - os homens mais bonitos são os que mais facilmente passariam por mulheres. E essa beleza sim é difícil de explicar.

Matemática

A felicidade é inversamente proporcional ao número de vezes em que pensamos nela.

Autocolante amarelo

Entre anúncios para aumentar o tamanho do meu sexo, sites para encontrar as mulheres mais belas e mais disponíveis da minha zona, ou lojas on-line onde posso comprar xanax e prozacs a metade do preço, o meu email é cada vez mais uma real caixa de correio onde não posso recusar publicidade não endereçada.

sexta-feira, fevereiro 16

Futurologia da Ofensa

- De certeza que és geração pré-IVG... ou então a tua mãe foi na conversa dos médicos do aconselhamento.


Enunciar

Princípios. Já que vou iniciar um périplo pela blogos com o objectivo de trazer leitores a este cantinho, convém lembrar que as informações e opiniões nele expressas não vinculam o seu autor. Não vinculam ninguém.

A falta deles. Por muito boa literatura que o faça, as pessoas tratam-se pelos nomes e não pelas suas iniciais.


quinta-feira, fevereiro 15

Pôr-do-Sol

Interrompem-se as buscas. Inspira-se uma última vez para voltar a respirar só de manhã. Deixa-se a alma em suspenso por um corpo perdido. O pôr-do-sol sempre foi uma hora de morte.

quarta-feira, fevereiro 14

Overbooking

É uma chatice e uma dura realidade. Vou ali e venho já. Prometo.

O Grande Português*

Foste, és e serás. Tu.

*ideia parcialmente roubada à revista TIME e a um dos convidados da gala [mas o que é que era aquilo?] de entrega dos prémios Inimigo Público/Eixo do Mal na Sic Notícias onde se atribuíu o prémio de Pior Português a António de Oliveira Salazar. Apesar de toda a gente saber que o mais votado foi Mário Soares, penso que até fica bem perpetuar a memória do ditador Salazar dando-lhe as condições eleitorais de que ele sempre foi partidário... é que as abstenções devem ter sido consideradas como votos no senhor. Honrar compromissos, parece-me bem.

O Pior Português

Tu. Também és tu.


terça-feira, fevereiro 13

Bons Encontros

Pára tudo! Anonima Nuvolari fazem o Carnaval Lisboeta dia 19 de Fevereiro na Galeria Zé dos Bois.

"Anonima Nuvolari vai bem com tinto. Anonima Nuvolari vai bem com alegria. Vai bem com boémia. Vai bem com festa. Música 100% italiana de sabor intenso e frutado. Néctar extraído das melhores colheitas. Vinho novo de compositores como Paolo Conte ou Vinicio Capossela. Vinho velho das colheitas de Renato Carosone, Fred Buscaglione, Adriano Celentano. Um passeio dos alegres pelos últimos 50 anos da canção italiana. Instrumentos tradicionais. Atitude genuína de paladar bem equilibrado, encorpado e com bom final de prova." LeCool nº79










Um terramoto em Lisboa

Terá sido isto? Que desilusão! Nós que não fazemos as coisas por menos, não podemos deixar de mostrar alguma tristeza e desilusão com um terramoto como o desta manhã. Cinco vírgula oito na escala aberta de Richter, mas que merda é esta? Uns segundos de tremideira que não mandou ninguém ao chão e pronto, está vivido o maior sismo registado e sentido em Portugal nos últimos trinta anos. Não há recordes do Guinness, não há um maremotozito, não há uns quantos desabamentos? Choradeiras no Jornal Nacional? Nem uma!

E depois, o que vem a ser isso da escala aberta de Richter? Aberta? Mas de onde vem essa evolução no conceito do qual eu não estou informado. Sempre foi aberta? Passou a ser aberta? Porque é que a população não foi informada previamente disto e foi necessário as coisas terem acontecido? Isto sim, são questões verdadeiramente fracturantes na real acepção do termo. Que a próxima fractura faça jus à nossa apetência por grandes realizações, que isto está a precisar de um sério abanão e o progressismo do nosso sim do último domingo pode ter sido excepção à regra.

Explicações Plausíveis

Tenho um fascínio particular por pessoas que em todas as situações da vida, utilizam um nome próprio e dois apelidos.

Ah, eu venho de duas famílias aristocratas e riquíssimas.
Ah, eu quero homenagear os meus pais.
Ah, eu acho que é mais chique.
Ah, a minha assinatura assim fica esteticamente mais bonita.

Ah, os meus pais assim me obrigavam quando era pequeno.
Ah, torno-me mais facilmente aceite no meio (académico, político, empresarial, intelectual, etc)
Ah, por hábito, já não me vejo d'outra forma.
Ah, porque sim.
Ah, por nada.

Ai o quanto me irrito quando me pedem apenas o primeiro e último nome. Sem lugar a excepção.

Pontos

Faz um ano que não te vais embora. Quantas vezes preciso de te acenar, de te dizer um adeus definitivo. É um adeus tão sincero e tão fatal. «Foda-se! Vai-te embora!» digo-te eu embalado por uma banda sonora grandiosa, empolgante - cavalaria que não ajuda na tua fuga, mas no meu afundamento. Ah! e aí parto feliz com a tua imagem nas minhas costas, e tu andas até te lembrares em voltar. Sem destino que não seja o meu. Faz pause e retrocede. Acabou a música e a orquestra agradece. Voltas constantemente. Não há realizador que te dê um final. Triste ou Feliz. Narrador que termine a tua história. E eu sinto que preciso de ser salvo. Preencher essa página cheia de erros de sintaxe, de gramática, de construção. Continuas a ser ponto de interrogação num texto onde eu só te quero num ponto final, para acabar com os erros.

Nada a acrescentar

Aqui fica uma bela letra, de uma bela música de um dos melhores álbuns portugueses do ano passado. Usar uma letra dos Sérgio Godinho sem lhe ofender os propósitos e desvirtuar o seu sentido. Só neste país é que se diz só neste país.


Unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
P'ra provar quem vai à frente
Ou fica atrás

Se é por
Ir estabelecer um novo recorde
Cumprimos o guinness ao preço que for
E fica o assunto homologado
E sem espumantes, às vezes dá p'ro banquete
Ou duas sandes

Sempre
Complicamos a coisa mais simples
E simplificamos a complicada
Sai em rajada o tiro pela colatra
Às vezes mata, às vezes ressureição
Foi de raspão

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

São muitos séculos em morna ebulição
A transitar entre o granizo e a combustão
E um qualquer hino para qualquer situação
Pessimista, optmista...

(e vai abaixo e vai acima
pessimista, optimista...)
...e agora a rima

Portugal é nosso p'ro bem e p'ro mal
E o mal que está bem
E o bem que está mal
E o bem que está bem

Juro
P'lo fado
P'lo baile e p'lo Kuduro
Que este país ainda tem futuro
É verde e maduro
Como à fruta, às vezes brota
Às vezes consternação
Secou no chão

segunda-feira, fevereiro 12

Encontrar o tom ao fim do mês.

Em dois livros, uma peça de teatro, dois clássicos na cinemateca, dois artigos de opinião. E mais importante do que tudo, num trabalho que tem de ser apresentado até ao meio-dia de hoje.


Bons Encontros

Medeia, o texto clássico de Eurípides em versão humor negro. Encenada por John Mowat, de 11 de Janeiro a 25 de Fevereiro, no Chapitô, em Lisboa. Uma boa oportunidade para fazer mais do que ver a vista.

Continua a confirmar-se a recente presença de Portugal nos roteiros das european tours de algumas das bandas mais badaladas do momento, exemplo para os Bloc Party, que a 18 de Maio mostram o seu novo albúm no Coliseu dos Recreios em Lisboa.

Dr. House

Não acredito que haja algum hipocondríaco que veja a série House. Aliás, acredito sim. Desde que ouvi um professor doutor no programa «Prós e Contras» dizer que há um negócio obscuro em Portugal que se baseia na venda dos restos fetais após-interrupção da gravidez, que acredito em (quase) tudo.

Eu não vejo o Dr. House, faço parte da regra e não da excepção dessa classe hipocondríaca de que devemos ser líderes mundiais. De qualquer maneira, não me admiro de quem o faça. É notória a fatal tendência para o auto-flagelação, para o sofrimento psicológico e físico auto-imposto. "Ai 'tou tão miserável mas aquele ainda está pior". Há uma espécie de catarsia infligida ao mesmo tempo que o miserabilismo ganha asas. É um contraditório, lá está. Mas nós somos peritos nessa arte. Faz parte. E arrisco-me a confessar-vos que me esqueci completamente do propósito deste post e que o que leram não passou de uma derivação.

O Marketing é Público

Com uma campanha publicitária muito interessante, o jornal Público mudou a arrumação, alterou a grafia e apresenta-se aos leitores de cara lavada, com uma nova revista e com uma edição gráfica sem lugar para o "preto e branco". Uma orgia de cor e fotografia para combater a precocidade em vídeo e som. Ainda não abri o jornal, mas não deixo de achar inteligentíssima a escolha da fotografia da primeira página. Podiam ter arriscado mais - pelo menos mais 10% da primeira página. Uma rapariga jovem, de sorriso virginal empenhando a bandeira do sim. Peito avantajado mas sem decote, olhar fixo, sonhador e doce. Vendem-se mais umas centenas de exemplares e não se choca a sensibilidade de ninguém, mentira, talvez a do Dr. César das Neves. Mas quere-me parecer que ele hoje não compra jornais.

Interlúdios

"Por vezes não sei se estás a falar a sério se estás a gozar." ou "Devias marcar os teus posts, qualquer coisa para diferenciar a realidade da ficção." Não é coisa que me digam, mas é coisa que me poderiam dizer. E é coisa a que eu facilmente responderia: é que por vezes nem eu sei.

Política de proximidade

É Domingo e o povo acerca-se das assembleias de voto. Cá fora vendem-se castanhas - poucas, as pastelarias nas redondezas estão cheias entre aqueles que fazem o seu cacique, aqueles que pensam ser ilegal fazer de cacique e aqueles que calhou por ali andarem. Reencontram-se colegas de escola que a vida afastou e que o recenseamento na freguesia aos 18 anos ainda aproxima. Vêm-se vizinhos desencontrados que um boa tarde corriqueiro e envergonhado de todos os dias não aproxima. Vêm-se os desconhecidos conhecidos próprios da cidade, aqueles que sempre por ali estiveram, a subir a nossa rua, a comprar na nossa mercearia. Aqueles que sempre vemos e nunca falamos. De repente estamos ali todos. Uns a uma hora, outros a outra, embora o acordo tácito é o de ir quando estiver mais gente - é a dominical confraternização laica dos dias que correm. Ou devia ser. Que esta gente nunca é muita gente, não é a gente necessária e à senhora das castanhas não chegou para ganhar o dia.

Idiota é muito forte?

Sou sincero. Não obstante o resultado do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez me deixar optimista, aquilo de que ficaria realmente orgulhoso seria a participação maciça do povo português em mais uma das (poucas) oportunidades de agir directamente sobre a política e as leis deste país. Mas não. Menos de metade dos portugueses votaram. Mais de metade não usufruíram de um direito fundamental do individuo enquanto cidadão. Não olhemos para o voto como um dever, apesar de também o ser. Entendamo-lo como um direito, um direito do qual o povo não soube, não sabe, não quer usufruir, e um povo que não usufrui dos seus direitos só pode ser um povo idiota de memória de curta.

sexta-feira, fevereiro 2

Não vos acontece?

Ainda há meia hora tiveste uma ideia perfeita para um post no teu novo blogue. Meia hora depois, não és capaz de a escrever, ou pior, não és capaz de a recordar. E assim continuas a viver o teu dia-a-dia, sem notas, sem moleskine, sem máquinas fotográficas ou telemóveis de terceira geração. Há coisas que só a memória é capaz de guardar, que só a memória é capaz de esquecer.